Roda de Diálogo destaca a luta das mulheres do Território 05 por reparação, justiça e reconhecimento

Roda de diálogos com as mulheres do território 05. Foto: Wan Campos/ATI

Nos municípios de Galiléia e Tumiritinga, teve início a atividade “Roda de Diálogo: A luta das Mulheres do Território 05 por reparação, justiça e reconhecimento”, promovida pelo CAT/ATI. As rodas de conversa têm como objetivo discutir a participação e o acesso das mulheres aos espaços de decisão e aos recursos previstos no Acordo de Repactuação, além de criar um espaço de troca e integração para discutir os desafios e as perspectivas enfrentadas por elas nesse processo de reparação.

Em Galiléia, o encontro foi realizado na sede do CAT/ATI e contou com a presença de aproximadamente 40 mulheres, tanto do meio urbano quanto do rural. Já em Tumiritinga, a atividade aconteceu na quadra poliesportiva local e reuniu cerca de 60 mulheres, representantes dos onze núcleos de base da região. Durante as rodas, as participantes compartilharam suas experiências sobre como o rompimento da barragem de Fundão impactou suas rotinas, seus modos de vida e seus vínculos com o território. O momento foi importante para escutar e fortalecer os laços entre as mulheres atingidas.

A roda de diálogo ocorreu como um ambiente de escuta e de participação, com foco na identificação dos principais desafios vivenciados pelas mulheres no processo de reparação e sobre o acesso a direitos previstos no Acordo de Repactuação. As participantes debateram a ausência de medidas específicas voltadas às mulheres, os obstáculos ao acesso aos programas de reparação e as estratégias para ampliar sua participação nos espaços de decisão.

As mulheres atingidas e os problemas da reparação

Com base nas informações coletadas pela equipe do CAT/ATI durante atendimentos, escutas e acolhimentos às atingidas ao longo dos últimos dois anos, além da análise dos dados do Registro Familiar, foi possível identificar diversos danos que atingem particularmente as mulheres, aprofundando desigualdades que já existiam. Essas informações ajudaram a orientar os diálogos e fizeram com que as participantes pudessem identificar e ter uma melhor compreensão do contexto local, no que se refere à danos individuais e coletivos.

Mulheres atingidas de Tumiritinga-MG. Foto: Wan Campos/CAT ATI

Entre os principais danos apontados pelas mulheres do Território 05 e sistematizados pela equipe do CAT/ATI, estão: a sobrecarga no trabalho doméstico e nos cuidados com as famílias, especialmente em contextos marcados pela perda de renda ou pela crescente dependência de serviços públicos; a perda do acesso ao rio, anteriormente fonte de alimentação, lazer, cuidado com a saúde e conexão espiritual e cultural com o território; e a desvalorização dos saberes tradicionais femininos, como aqueles ligados à agricultura, culinária, cuidado com a natureza e manutenção das redes comunitárias. “A Terra hoje não produz igual produzia. Eu não comprava verdura. Tinha de tudo. Até as bananeiras acabou.”, apontou Geralda Evangelista, moradora de Galiléia-MG. Também se destaca a invisibilidade das mulheres nos processos de reparação, que ocorreu desde a fase de cadastramento das pessoas atingidas, quando essas mulheres sequer foram reconhecidas como titulares ou representantes de seus núcleos familiares, evidenciada pela ausência de escuta qualificada às suas demandas, principalmente no que se refere à saúde mental, segurança alimentar e autonomia econômica. 

Ainda há um agravamento da vulnerabilidade socioeconômica, que se manifesta no aumento da pobreza, no adoecimento físico e mental e na intensificação da violência doméstica. Esses danos ultrapassam a esfera individual e impactam a vida coletiva das mulheres, suas redes de solidariedade e a própria permanência com dignidade no território.

Construção coletiva de soluções e propostas 

Mais do que espaços para denunciar problemas, as rodas de diálogo se dão como momentos importantes para fortalecer politicamente as mulheres atingidas. Ao longo dos encontros, as participantes refletiram sobre alternativas concretas para mitigar os danos sofridos e reivindicar medidas de reparação mais justas e sensíveis às desigualdades de gênero. Sandra Leão, do assentamento 1º de Junho, em Tumiritinga-MG, durante as sugestões debatidas entre as mulheres que estiveram presente, sugeriu a construção de um espaço de “aprendizagem artesanal”, considerando o potencial artesanal já presente entre as mulheres da região, possibilitando a mão de obra mais qualificada e a geração de empregos, seria legal essa parte aí, e depois que fizesse parcerias com lojas para revender. Acho que aqui em Tumiritinga tem muitos artistas, pessoas que sabem bordar, fazer tricô, pintar, enfeites feitos de forma artesanal.”, completou a sua sugestão.  Entre as propostas construídas coletivamente estão a criação de projetos voltados à geração de renda para mulheres, com foco na valorização de saberes locais e práticas agroecológicas; a implantação de ações de saúde integral, incluindo atendimento psicológico e cuidado com a saúde mental;criação de espaços de lazer e cultura, que atendam mulheres de todas as idades; e a reivindicação por maior participação das mulheres nos espaços de decisão sobre a reparação, como os conselhos de participação Estadual e Federal. 

Mulheres atingidas de Galiléia-MG. Foto Wan Campos/CAT ATI

Essas propostas representam o início de uma agenda construída junto às mulheres do Território 05, com base em suas vivências, resistências e capacidades de organização. A atividade reafirma o compromisso da ATI com a escuta qualificada e o fortalecimento das mulheres como sujeitas políticas, protagonistas da reparação e da reconstrução de seus territórios. Ao dar centralidade às vozes femininas e seus saberes, as rodas de diálogo também fazem um chamado à sociedade e às instituições responsáveis pela reparação: não há justiça possível sem considerar a luta das mulheres por reconhecimento, dignidade e pertencimento.

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