Atingidos reunidos durante a reunião. Foto: Ana Miranda/CAT ATI
Há quase nove anos após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, as pessoas atingidas da bacia do rio Doce tiveram a oportunidade de participar de uma reunião do Comitê Interfederativo (CIF), presencialmente, no seu território. A 77ª Reunião Ordinária do CIF aconteceu na cidade de Governador Valadares, nos dias 27 e 28 de junho e contou com a presença de cerca de 300 pessoas atingidas da bacia do rio Doce, litoral capixaba e litoral da Bahia.
Criado após o rompimento da barragem, a função do CIF é “orientar e validar os atos da Fundação Renova, instituída pela Samarco e suas acionistas, Vale e BHP, para gerir e executar as medidas de recuperação dos danos resultantes da tragédia”. Ele é composto por representantes da União, dos governos de Minas Gerais e Espírito Santo, Defensoria Pública, Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, cidades e pessoas atingidas, o IBAMA é responsável por presidir esse comitê.
A reunião abordou as deliberações de assuntos das Câmaras Técnicas de Segurança Hídrica e Qualidade da Água (CT-SHQA), de Reconstrução e Recuperação de Infraestrutura (CT-Infra), de Saúde (CT-Saúde) e de Economia e Inovação (CT-EI) entre outros programas que integram o conjunto de medidas de reparação às populações atingidas pela lama de rejeitos.
Pessoas atingidas do litoral capixaba aproveitaram a reunião para apresentar a situação dos peixes da região. Foto: Wan Campos/CAT ATI
Durante a plenária, pessoas atingidas levaram suas demandas à mesa e explanaram a respeito da realidade que vivenciam. Silvana Maria, comerciante e membro da comissão de atingidos de Tumiritinga revelou a situação das pessoas atingidas do seu município que, após o rompimento da barragem, perdeu parte de seu orçamento financeiro com a diminuição drástica do turismo. “Hoje as pessoas não vão mais para lá, nós tínhamos o ‘carnajaó’ que acontecia na nossa prainha do Jaó, durante o carnaval. Elas preferem ir para um clube, viajar, praia, porque o rio tá lá, mas não pode banhar”, relatou a comerciante.
Outro importante ponto trazido dentre as falas das pessoas atingidas foi a dificuldade da retomada das atividades agrícolas e econômicas nas áreas em que a lama de rejeitos passou e ainda passa. Gredinei Gusmão, agricultora e membro da comissão trouxe à mesa o relato tanto seu, quanto de outras pessoas do território 05 que sofrem com a perda de suas plantações e, consequentemente, a impossibilidade de comercialização desses cultivos. “Eu entrego merenda escolar no PNAE e, desde 2015, nós estamos tendo dificuldades para continuar entregando os alimentos, porque vem a enchente e volta tudo para nossa Ilha”, desabafou a agricultora. Em sua fala, ela explica sobre a situação que evidencia a de outras pessoas atingidas do território 05 e, em sua maioria, têm a agricultura como fonte principal de subsistência.
O atingido Roberto Luz entregou às referências dos povos originários presentes à mesa algumas sementes crioulas em um ato de agradecimento e respeito. Foto: Ana Miranda/ CAT ATI.
Ao final, a gerente de Turismo Betinna Almeida, da Prefeitura Municipal de Governador Valadares (PMGV), informou que um projeto está sendo realizado com o município de Tumiritinga e cidades que estão na “calha do rio Doce” para fomentar o turismo nesses territórios que foram diretamente afetados. Ela ainda sugeriu a produção de uma nota técnica junto com o Assessoria Técnica Independente do CAT para registrar a situação que assola o município.