2º Encontro de Mulheres do Território 5 reforça participação social e consolida propostas para projetos comunitários

Em dois dias de Rodas de Diálogo, as participantes analisaram devolutivas do primeiro encontro, revisaram propostas para projetos comunitários e debateram caminhos para ampliar sua participação nos espaços decisórios do Novo Acordo

Com a realização do 2º Encontro de Mulheres do Território 5, promovido pelo CAT/ATI, foi possível avançar em importantes discussões sobre a incidência política e construção de projetos comunitários. Realizadas em Galiléia e Tumiritinga, nos dias 25 de novembro e 2 de dezembro de 2025, as reuniões ampliadas reuniram moradoras dos dois municípios em um espaço de escuta, análise crítica e formulação de propostas voltadas ao fortalecimento da atuação feminina nos espaços decisórios da repactuação.

As atividades deram continuidade ao primeiro encontro, iniciado ainda no primeiro semestre de 2025, apresentando às participantes as devolutivas sistematizadas das demandas já levantadas. A partir desse retorno, foi possível avançar na avaliação conjunta das necessidades específicas das mulheres e nas possibilidades concretas de incidência sobre as políticas públicas vinculadas ao Novo Acordo de Mariana. A metodologia adotada proporcionou ampla participação das participantes, que revisaram suas próprias propostas e reorganizaram prioridades.

Propostas estruturadas por municípios: agendas comuns e especificidades locais

“Como uma mulher como eu, sozinha, como vou chegar nessa caixinha de dinheiro?”, a pergunta de Liberina Prata, moradora de Galiléia, corresponde à dúvida de todas as mulheres do território. Por isso, as propostas apresentadas ainda no primeiro encontro, foram estruturadas a partir dos anexos do Novo Acordo, respeitando as realidades distintas de cada município,  mas evidenciando desafios convergentes, como retomada econômica, acesso à renda, melhorias em saúde e educação, segurança hídrica e fortalecimento da participação social.

Além das propostas já destacadas, as mulheres reforçaram a importância de que os projetos comunitários levem em conta a dinâmica econômica e social de cada município. Em Galiléia, por exemplo, a criação de um galpão comunitário foi associada à necessidade de valorizar conhecimentos já existentes, estimular a economia local e promover autonomia financeira das famílias. As participantes também sublinharam que ações culturais e educativas devem dialogar com as trajetórias das mulheres do território, incentivando a permanência das jovens e a preservação da memória coletiva.

Aqui em Tumiritinga eu já fui doceira, a gente tinha o trem, eu ia e as doceiras tudo da cidade, vendemos “chuck”, doce, tudo. Hoje aqui no município a renda é na cerâmica, prefeitura e tem a feira de quinta-feira, se tivesse um jeito de organizar um galpão para a gente trabalhar junto e fazer uma coisa pra tirar renda todo dia”, relata Cláudia Helena, moradora de Tumiritinga.

Em Tumiritinga, a urgência de iniciativas que ampliem alternativas de trabalho e renda foi acompanhada de reflexões sobre a sustentabilidade dessas ações ao longo do tempo. As propostas para implantação de viveiros, hortas comunitárias e espaços de produção compartilhada foram discutidas como ferramentas de fortalecimento comunitário, mas também como instrumentos de gestão ambiental e de geração de oportunidades para diferentes perfis de mulheres, incluindo aquelas que buscam novos meios de subsistência após perderem suas fontes tradicionais de trabalho em função do desastre-crime.

As mulheres do Território 05 também salientaram a necessidade de acompanhamento técnico contínuo, desde a formulação dos projetos até sua execução, de modo a garantir que as iniciativas tenham viabilidade prática e consigam responder às expectativas das participantes. 

Participação social

Uma das principais discussões do encontro foi o papel das mulheres nos mecanismos de governança do Novo Acordo. O Anexo 6, que trata da participação social, foi detalhado pela equipe CAT/ATI, especialmente no que diz respeito ao acesso às informações, à criação de projetos comunitários e ao funcionamento do Fundo de Participação Social, que destina R$ 5 bilhões para iniciativas de interesse direto das comunidades atingidas.

As participantes revisaram pontos importantes deste anexo, como a atuação do Conselho Federal de Participação Social, os critérios para seleção de projetos e a reserva de recursos para iniciativas lideradas por mulheres. A análise reforçou a necessidade de ampliar o protagonismo feminino em todas as esferas, Federal e Estadual, através das instâncias participativas previstas no Acordo, ou nos Conselhos Municipais de Saúde e Assistência Social, espaços considerados estratégicos para fiscalizar políticas públicas, definir prioridades locais e garantir que as ações de reparação destinadas aos municípios respondam às realidades do território.

Uma reparação para todas

Os Encontros de Mulheres do Território 5, realizados ao longo do último ano, representaram um grande avanço no processo de construção coletiva das propostas e no fortalecimento da atuação das mulheres atingidas. O aprofundamento das discussões e a consolidação das prioridades demonstram que esse grupo está cada vez mais organizado e incidindo diretamente nas ações de reparação previstas no Novo Acordo.

Entretanto, as participantes reconheceram que, embora o desenvolvimento de projetos comunitários seja um passo relevante, essa medida permanece insuficiente diante da complexidade dos danos vividos pelas mulheres do território. “Hoje, quem tem saúde e força não tem água”, reforça a atingida Liberina Prata – que possui 81 anos de idade –  no que se refere às limitações dos programas reparatórios, antes e depois do Novo Acordo. Parte das atingidas, especialmente mulheres idosas, com limitações físicas ou que já não podem realizar atividades braçais, continua desassistida ou pouco contemplada pelos modelos de projeto atualmente previstos.

O encontro reforçou que a reparação integral exige políticas mais amplas, capazes de responder às múltiplas realidades presentes nos municípios e de garantir que todas as mulheres atingidas tenham seus direitos reconhecidos e suas condições de vida efetivamente reconstruídas. 

Para isso, o CAT/ATI está realizando, durante o mês de dezembro, as “Reuniões de Núcleo de Base: Demandas Coletivas no Novo Acordo do Rio Doce”, que visam estabelecer e direcionar as demandas de todo o território 05 para criação de projetos comunitários. Nessas reuniões, as mulheres organizadas de cada núcleo de base tem elegido suas prioridades e construído projetos específicos para este grupo. O caminho permanece em construção, e a participação social, segue sendo um dos pilares centrais para que a reparação seja justa e adequada às necessidades do Território 5.

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